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domingo, 7 de setembro de 2014

Baiano gosta é da bagaceira: o crime e o espetáculo da miséria alheia !

O que se ouve normalmente é que baiano gosta é de preguiça. Eu, particularmente, não vejo nada demais nisso. Faço, como diria Lafargue, um elogio pra ela. Mas como bom baiano, como todos são, sou bastante trabalhador. O que fazemos aqui é nos divertir até dando duro.
Mas uma coisa me chamou a atenção numa conversa hoje: aprendi que “baiano gosta é da bagaceira”.
Como este site do JusBrasil é acessado por milhões de pessoas, eu vou atentar para a questão do regionalismo e explicar o que “bagaceira” quer dizer: bagaceira é a mesma coisa que “desgraça”, “estrago”. Lembram de uma das músicas do grupo de Rock brasileiro chamado “Raimundos”? A banda fez uma música chamada “eu quero é ver o oco”. É o mesmo sentido.
O que faz sucesso por aqui é jornal, escrito ou televisivo, que mostre “a bagaceira”, o sangue e todo o terror do crime. Por aqui a audiência, em pleno horário do almoço, é gigante porque se apresenta “a verdade nua e crua”.
Acontece, no entanto, que ninguém está interessado na verdade, pois os verdadeiros espetáculos são feitos para entreter, custe o que custar. Tornando a criminalidade um espetáculo, busca-se por meio da miséria humana entreter o telespectador ou leitor, fazendo com que ele se distraia e se divirta com os fatos da vida como se fossem um filme de terror.
Desta forma, nem a vítima e nem o acusado – este que é apresentado no show midiático quase sempre como se culpado fosse – não são tratados como pessoas, mas apenas como objetos, sendo que seus sofrimentos são as principais mercadorias e produtos que trarão lucro.
Parei pra pensar no que me disseram e é verdade: baiano gosta é da bagaceira. A Imagem dos crimes causa uma espécie de euforia mórbida. Reparando, percebi que ler as notícias de assassinatos, acompanhada com as fotos, causa um êxtase muito parecido com aquilo que sentimos ao ver um drible bonito no futebol. E se o acusado foi espancado e jogado na cadeia, então a sensação se parece muito com a comemoração de um gol.
A mídia baiana está correndo atrás do próximo crime; e o público, torcendo pra ver a bagaceira no jornal. E neste show de horrores, acabamos por torturar, matar e ocultar o corpo dos Direitos Humanos e do Princípio da Dignidade Humana.
Faça um favor a si próprio: ao invés de dar ibope para estes programas sensacionalistas e antidemocráticos, vá ler poesia.

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