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sábado, 8 de julho de 2017

Bebê terá documento sem identificação de sexo para 'decidir gênero quando crescer'

Beb ter documento sem identificao de sexo para decidir gnero quando crescer
Um bebê canadense de oito meses é provavelmente o primeiro caso no mundo de um recém-nascido com um documento oficial em que seu gênero não é identificado.
O cartão de saúde da criança, batizada como Searyl Atli, foi emitido pelo governo da Província de Colúmbia Britânica com a letra U no espaço reservado para "sexo", o que pode ser interpretado em inglês como undetermined (indeterminado) ou unassigned (não atribuído).
Esse fato -que parece ser inédito no mundo, segundo a imprensa canadense- era uma demanda de Kori Doty, que é pai/mãe de Searyl.
Kori é transgênero, se identifica como uma pessoa "não binária" -classificação usada por pessoas que não se consideram homem ou mulher- e deseja que o filho descubra por conta própria seu gênero quando for mais velho.
Kori tenta omitir o gênero da criança também da certidão de nascimento. Isso é negado pelas autoridades até o momento. Atualmente, as certidões de nascimento de Colúmbia Britânica só permitem que sejam designados os gêneros "masculino" e "feminino".
Por isso, Kori move uma ação contra a Agência de Estatísticas Vitais Colúmbia Britânica, órgão responsável pela emissão de registros civis. Em meio a essa disputa, no entanto, o cartão de saúde da criança foi enviado no mês passado pelo governo da Província sem a identificação de gênero.
A advogada da família, Barbara Findlay, que prefere escrever seu nome sem maiúsculas, disse ao site Global News que "a designação de gênero nesta cultura é feita quando um (a) médico (a) abre as pernas e olha para os genitais de um bebê". "Mas nós sabemos que a identidade de gênero do bebê só será desenvolvida alguns anos após o nascimento."
'Inspeção visual'
Searyl nasceu em novembro passado na casa de um amigo de Kori, justamente para a criança não ter seu gênero determinado por um médico após o parto.
Kori argumenta que essa inspeção visual na hora do nascimento não é capaz de determinar o gênero de alguém e que uma pessoa não necessariamente se identificará ao longo da vida com o gênero que foi atribuído a ela neste momento -como foi o seu caso, que era considerada uma mulher.
"Quando nasci, médicos olharam para meus genitais e fizeram suposições sobre quem eu seria, e essas suposições me perseguiram ao longo da vida. Essas suposições estavam erradas, e eu acabei tendo que fazer vários ajustes desde então. Não quero fazer o mesmo agora."
Kori se refere à criança por "they", pronome em inglês para se referir a pessoas e objetos no plural e que não tem gênero -pode ser traduzido tanto como "eles" ou "elas" em português.
"Estou criando Searyl de modo que até que tenha senso de si e capacidade de vocabulário para me dizer quem é, tento dar todo o amor e apoio para que seja a pessoa mais inteira que puder fora das restrições que vêm com o rótulo menino ou o rótulo menina", disse à rede de TV CBC News.
Kori trabalha com educação comunitária e integra a Coalizão de Identidade sem Gênero, ONG que defende que a categoria "sexo" seja retirada de todos o documentos oficiais dos cidadãos.
Argumenta que quem não se identifica com o gênero oficial enfrenta vários problemas ao tentar mudar seus documentos mais tarde na vida.
Kori é uma das oito pessoas envolvidas em uma ação levada ao Tribunal de Direitos Humanos de Colúmbia Britânica que pede a omissão do gênero em documentos emitidos em todo o Canadá.
Debate
Atualmente, o tema já é alvo de debate em outras Províncias do país, como Ontário e Alberta, onde estão sendo revistas políticas para incluir uma terceira possibilidade, uma opção de gênero não binário, em documentos oficiais.
Kori não considera a criação de uma terceira opção a solução ideal, mas avalia como uma saída viável para o problema.
Segundo a advogada Findlay, um argumento recorrente contra a omissão do gênero em documentos é que isso é necessário para gerar estatísticas sobre a população. Ela diz que a omissão não implica que esse dados não serão coletados, mas sim que isso será feito anonimamente e sem ligação com a identidade de uma pessoa.
"Nossa cultura é obcecada em saber se (um bebê) é menino ou menina, mas não cabe ao governo certificar essa informação sem saber se isso é verdade", disse Findlay.

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